folia em dia de chuva

Monday, October 30, 2006

o nome do cachorro de adah


Adah era uma menina de três anos que tinha tranças, muitas tranças, no cabelo. Adah morava numa casa grande e marrom. A rua onde Adah morava se chamava Rua das Nações e era cheia de árvores dos dois lados. A casa de Adah tinha um jardim que ficava marrom no inverno - só pra combinar com a cor dos tijolos da casa. No jardim tinha um balanço, mas isso era só para o verão. A casa de Adah tinha também um quarto só de brinquedos, brinquedos, brinquedos, muitos brinquedos. Mas os brinquedos estavam mesmo era por toda a casa - até na escada! O mais legal da casa de Adah era mesmo o sótão secreto onde ficavam os gatos com seus filhotes. Só entrava no sótão quem era convidado de Adah (e dos gatos, é claro).

E Adah tinha também um cachorro saltitante cor de sorvete de creme. O cachorro de Adah era maior do que ela e corria pela casa, e Adah corria atrás, e passava dele, e ele corria atrás dela, e ela puxava o rabo dele, e mandava ele parar, e ele corria escada acima, e ela corria escada abaixo e a casa toda balançava.
Adah tinha uma comida preferida: macarrão. E também uma palavra preferida: disgusting. E também uma brincadeira preferida: pular no colchão até cair, capoft. Adah também adorava se esconder dentro do armário e brincar com sua bola azul. E o que ela não gostava nenhum pouco era quando sua irmã menor gargalhava.
Num dia frio de quase congelar, chegou à casa de Adah uma moça diferente que ela nunca tinha visto. Era uma moça triste que tinha uma saudade de criança e de cachorro. Adah a chamou de "a nossa visitante". Adah e seu cachorro cor de sorvete de creme estavam curiosos quando o pai de Adah anunciou: "a nossa visitante chegou!". Adah, de longe, investigava os olhos, a bolsa, os cachos por debaixo do gorro. O cachorro, de perto, cheirava o pé, a bolsa, a luva e, finalmente, saltava em cima da moça. A moça sorriu timidamente e se deixou ser investigada. Sentou-se no sofá e lá ficou. Investigou um pouco também, é bem verdade. Mas o frio era tanto, tanto dentro, tanto fora, que demorou a derreter a timidez e voltar a sentir.

Adah ficou escondida atrás da pilastra enquanto a moça conversava com seus pais. Ela olhava para a moça, a moça olhava para ela - as duas como que queriam sorrir, mas sérias. Adah deu um passo, deu dois. E parou. Olhou em volta pra ter certeza de que ninguém estava vendo e avançou mais alguns passos. Aos poucos foi chegando perto do sofá até que, puff, sentou ao lado da moça e ficou ali, quietinha, sem dizer palavra. Veio o cachorro cor de sorvete de creme e, puff, deitou no chão, quietinho, sem dizer palavra.
A conversa seguiu. E Adah ali. E a moça ali. Até que os adultos levantaram. Adah levantou os olhos, olhou interrogativa para a mãe que disse: "dê tchau pra nossa visitante, Adah". A moça sorriu devagarinho, Adah a olhou de mansinho e o cachorro por fim soltou um latido. "Tchau, Adah" disse a moça. E resposta de Adah veio no mais esperado ainda que mais surpreendente dos abraços.
A moça saiu andando pela rua, leve, parecia balançar com as árvores na brisa gelada daquele fim de tarde. Já não sentia frio: a lembrança do abraço a aquecia. Adah acalma a alma de qualquer pessoa. Mas a alma de Adah, essa só o cachorro cor de sorvete de creme acalma.

Tuesday, October 17, 2006

felizes?
alegres?
de qualquer forma é uma risada gostosa...
em tons de verde e vermelho!

Sunday, October 15, 2006

quando não tem garçon...

a conversa começou atípica: grupos de adictos em sexo na pauta. histórias, piadas, suposições... conversa mesmo de mesa de bar, daquelas em que alguém sempre consegue dizer uma frase mais engraçada que a última piada.
de repente a conversa mudou para a argentina e, por algum motivo obscuro, o tom ficou menos brincalhão. as risadas silenciaram, os sorrisos se desfizeram e no lugar deles surgiram olhares pensantes. algumas pitadas de política, pedacinhos de discordâncias (daquelas suaves que só entre amigos existem) e, após alguns pitacos, uma constatação: eles, os argentinos, são melancólicos. não são tristes. enquanto nós, brasileiros, somos alegres. e não felizes.

silêncio. já não há mais pedacinhos de discordâncias - cada um está em seu próprio universo tentando entender o que isto quer dizer, tentando descobrir o que fazer agora com esta tal constatação: levar pra casa? guardar no bolso? deixar na mesa do bar? fazer música? ir pra buenos aires? jogar no lixo??
até que alguém acaba com o pesado silêncio e finalmente diz: vamos entrar pra ouvir a banda?
num só impulso todos levantam e entram no bar.
alegres. e não felizes.

e eu, bem aqui dentro, admito que continuo preferindo a melancolia.


Um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante

Leminski

Sunday, October 08, 2006

música de algodão

paulinha convida e recomenda.
e eu também...
do pouco que ouvi foi de fazer sorrir a alma e chorar os olhos (lembra até o que sinto quando escuto cravo da terra...):

show do wandula no tac

dia 27/10 - sexta-feira
R$10,00 e R$5,00

produção polifönica
apoio aliança francesa

Friday, October 06, 2006

saudade do próprio sorriso


do lado de fora a chuva se derrama. aqui dentro, como que num abrigo, ela abre um caderno qualquer e lá está: uma foto de há poucos meses onde reconhece, no olhar-que-era-seu-mas-que-não-mais-lhe-pertence, um antigo (e quase antiquado) sentimento de felicidade inconsciente. por um instante pensa que essa talvez seja a mais verdadeira das felicidades: aquela que de tão mansamente chegar mal se percebe quando ela já se instalou em nós. ao olhar a foto, a saudade daquele outro lugar. saudade de um viver de certezas (de ilusões tão firmes quanto nuvens de para sempre) que iluminavam seu sorriso e a tornavam mais bela – mais presente.
naquele tempo de (há) poucos meses, viver era somente aquele tempo. lá, naquele outro lugar, não existia o antes, não existia o depois. ou, se existissem, todos ao redor disfarçavam muito bem. as memórias eram distantes como se pertencessem a qualquer outro universo que não aquele. o mundo parecia que já não haveria após a partida. lá, nos tempos da foto, tudo era aquele momento – nada além parecia existir. e de fato não existia. por isso era bem mais fácil sorrir. bem mais leve.
o céu ainda chora e ela a olhar a foto. sente de novo a vontade daquele leve sorriso de outrora como se nele buscasse uma verdade que já não mais está. e nem poderia estar. ao invés do sorriso o que vem é um vestígio de lágrima. mas não chora. já não – pois sabe bem que a saudade só brota em solos onde um dia se foi feliz.

sorri de volta para a menina da foto com um olhar de querer bem. com todo cuidado guarda na memória aquela piscadela de felicidade. a chuva ainda não quer secar porque o céu sim ainda tem o que chorar. no rádio uma canção lhe encanta a alma: ‘enquanto a noite passa, eu rego o seu jardim, você já vai voltar’. como se já nada mais houvesse a ser dito fecha o caderno e volta a pensar no futuro.

mudança

mudei pra cá...
melhor assim - aquele lugar de lá tava já muito viciado (e não me deixava colocar fotos direito, humpf!)
quem quiser vir é bem-vindo. e que deixem pingos de chuva pra colorir a folia...