folia em dia de chuva

Monday, November 27, 2006

Vai desabar sobre os homens



fotinho lá dos idos de setembro: em dias de lilian... em tempos em que estava difícil acreditar que a felicidade pudesse um dia, de novo, desabar sobre mim. cá nos vindos de um quase dezembro ela já parece tomar mais forma - como nuvens que em segundos transformam-se em um cachorro deitado ou em um sorvete com uma cereja em cima. porque passar horas vendo figuras nas nuvens é uma maneira de ser feliz. e, principalmente, porque essa chuva já tá durando por demais. e porque enfim será dezembro e já é tempo do sol sair do anonimato...

Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça

Menina a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono

Menina a felicidade
É cheia de ano, é cheia de eno

É cheia de hino, é cheia de ono...

Tom Zé e Perna

Thursday, November 16, 2006

aqui estan mis credenciales

em dias em que a música de Drexler me vem como um respiro pr'alma: gotinhas homeopáticas de delicadeza em um mundo que cada vez passa mais por cima sem nem olhar pra trás. delicadeza de duas vozes que se tocam, se acariciam e, quando já beiram o silêncio, parecem tornar-se uma só coisa, como duas linhas paralelas que no infinito se encontram.
aos meus ouvidos é como se ao cantar ele conseguisse parar o tempo. conseguisse, numa suavidade cantante de uma
canción que se dissipa en el viento, segurar os ponteiros do mundo.
lembro-me de ouvir um amigo querido - desses que quando falam parece que é com a nossa voz - dizer, numa tarde (amarela) de sol numa mesa amarela de um mercado público também amarelo, que já não era na ciência, na política, na verdade ou no dinheiro que ele acreditava, era somente à arte que sua alma conseguia se entregar sem vestígios de desconfiança. lembro-me também de não tê-lo entendido bem naquele dia já distante: minha fé naquele tempo talvez fosse outra. hoje, no entanto, pareço sentir na pele, nos poros que se arrepiam num acorde, que só a delicadeza da música me faz sentir que ainda pode haver delicadeza no que resta de nós. isso, ou o sorriso de uma menina chamada esperança.


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Soledad
(Jorge Drexler)

Soledad,
aqui estan mis credenciales,
vengo llamando a tu puerta
desde hace un tiempo,
creo que pasaremos juntos temporales,
propongo que tu y yo nos vayamos conociendo.

Aquí estoy,
te traigo mis cicatrices,
palabras sobre papel pentagramado,
no te fijes mucho en lo que dicen,
me encontrarás
en cada cosa que he callado.

Ya pasó
ya he dejado que se empañe
la ilusión de que vivir es indoloro.
Que raro que seas tú
quien me acompañe, soledad,
a mi, que nunca supe bien
cómo estar solo.

mais em www.jorgedrexler.com

Monday, November 13, 2006

Não vai ser em vão que fiz tantos planos

Serpentina. Ela viu uma chuva de serpentina lentamente derramar-se pelo chão sujo da rua e já era o amanhecer. Por um instante pensou ser apenas uma miragem – ou simplesmente preferiu acreditar que não era nada daquilo. Ao seu lado um bêbado qualquer derramava pedaços de uma cerveja já quente e seguia a conversa consigo mesmo que provavelmente começara há mais de semana. Na sua cabeça pedaços também de conversas que, entrecortadas, seguiam, sem pretensão alguma de fazer sentido – porque, afinal, fazer sentido é pretensão boba, daquelas inatingíveis.
Chegou em casa após uma longa jornada, um copo de água pra tirar o gosto ruim da boca e antes de fechar os olhos ainda pediu a companhia da rádio – mas já não havia música capaz de lhe calar os pensamentos.
Tantas frases.
Tantos olhares.
Tantas pessoas.
Fantasias.
Tantos significados que tudo pode ter tido que era melhor nem querer saber de todos.
Um certo carinho com relação ao passado e aquela eterna (tomara!) expectativa com relação ao futuro. Certamente era o fim de um ciclo, mas de qual deles?
O carnaval acabou. A partir de amanhã não haverá mais confetes e as serpentinas já serão artefatos de um passado quase distante. Um certo não saber quem será toda essa gente quando fantasias já não mais houver. Uma certa dúvida. Vontade de tudo poder compreender com a certeza de que tudo será pra sempre incompreensível.
Por ora, prefere tentar juntar as migalhas que consegue enxergar a olho nu: o sorriso de Rita, o olhar indagador de Martin, o abraço apertado que só Francisco, o entender das palavras (seus ires e vires) de Alice. Cada um com seu pedaço lhe parece imprescindível. Pedaços que compõem um tanto – um pedaço de vida que já não se pode jogar fora.

Eu não sei bem o que seja, mas seja o que será...
Chico Buarque