folia em dia de chuva

Monday, November 12, 2007

de sexta a domingo


Entrou em casa e se atirou no sofá.
Exausta. Estava.Estafada.
Os pés, ainda formigantes. As mãos, ainda não as sentia, do frio. A cabeça, ainda cheia de um vazio já pesado.
Lembrou que precisava respirar mais e encheu de ar os pulmões.

Outra vez.
E mais uma.
Sentia-se já um pouco melhor – ali estirada no sofá. Uma sexta-feira cheia, de tudo um pouco, tinha sido esta. E agora, enfim, parava. Enfim respirava. Tinha ainda um tanto de coisas para fazer, um tanto de gente para ligar, um tanto de emails para ler, outros tantos para responder, e ainda assim, ninguém especial para encontrar numa sexta-feira à noite. Eram tantos tantos que acabava sempre ficando sem quase nada. Impreechida – ao contrário de sua agenda.

As semanas vinham passando assim. Um domingo num parque, outro no cinema, alguns em casa: sala, cozinha, quarto, sala, varanda, cozinha... Sempre ela, só, com suas memórias. Recorria a tempos longínquos para poder arrancar de si mesma um sorriso espontâneo. Já por vezes não tinha mais paciência de permitir que novos sorrisos surgissem – fossem seus ou de outrém.
De segunda a sexta ainda era capaz de se encantar com o mundo, de ver beleza em pedaços de concreto ou nos galhos secos das árvores. Nesses dias podia sentir a música que entrava por seus ouvidos comover seu corpo até quase o dedão do pé. Quase.

Mas já era sexta de noite e a segunda ainda demoraria a chegar. Era chegada a hora de outra vez inventar passeios, cinemas, teatros, agendas culturais imperdíveis que atolam as grandes cidades, telefonemas urgentes, dois ou três amigos distantes pra quem ligar, e outros vários de quem só mesmo lembrar um pouco.
Lembrava da casa que tinha na árvore do seu quintal quando menina – mas isso já não existia, assim como quase tudo vindo de seu passado. Restavam algumas ruínas. Paredes pela metade, memórias incompletas, algumas fotografias antigas. Isso.
E já era sexta de noite e agora aquele sofá até já lhe parecia um bom lugar para passar o fim de semana.
E assim, nada poderia ser um programa de domingo melhor que respirar, fundo. Outra vez. Como se estivesse na sua casinha na árvore. Só que agora no sofá da sala.