o nome do cachorro de adah

Adah era uma menina de três anos que tinha tranças, muitas tranças, no cabelo. Adah morava numa casa grande e marrom. A rua onde Adah morava se chamava Rua das Nações e era cheia de árvores dos dois lados. A casa de Adah tinha um jardim que ficava marrom no inverno - só pra combinar com a cor dos tijolos da casa. No jardim tinha um balanço, mas isso era só para o verão. A casa de Adah tinha também um quarto só de brinquedos, brinquedos, brinquedos, muitos brinquedos. Mas os brinquedos estavam mesmo era por toda a casa - até na escada! O mais legal da casa de Adah era mesmo o sótão secreto onde ficavam os gatos com seus filhotes. Só entrava no sótão quem era convidado de Adah (e dos gatos, é claro).
E Adah tinha também um cachorro saltitante cor de sorvete de creme. O cachorro de Adah era maior do que ela e corria pela casa, e Adah corria atrás, e passava dele, e ele corria atrás dela, e ela puxava o rabo dele, e mandava ele parar, e ele corria escada acima, e ela corria escada abaixo e a casa toda balançava.
Adah tinha uma comida preferida: macarrão. E também uma palavra preferida: disgusting. E também uma brincadeira preferida: pular no colchão até cair, capoft. Adah também adorava se esconder dentro do armário e brincar com sua bola azul. E o que ela não gostava nenhum pouco era quando sua irmã menor gargalhava.
Num dia frio de quase congelar, chegou à casa de Adah uma moça diferente que ela nunca tinha visto. Era uma moça triste que tinha uma saudade de criança e de cachorro. Adah a chamou de "a nossa visitante". Adah e seu cachorro cor de sorvete de creme estavam curiosos quando o pai de Adah anunciou: "a nossa visitante chegou!". Adah, de longe, investigava os olhos, a bolsa, os cachos por debaixo do gorro. O cachorro, de perto, cheirava o pé, a bolsa, a luva e, finalmente, saltava em cima da moça. A moça sorriu timidamente e se deixou ser investigada. Sentou-se no sofá e lá ficou. Investigou um pouco também, é bem verdade. Mas o frio era tanto, tanto dentro, tanto fora, que demorou a derreter a timidez e voltar a sentir.
Adah ficou escondida atrás da pilastra enquanto a moça conversava com seus pais. Ela olhava para a moça, a moça olhava para ela - as duas como que queriam sorrir, mas sérias. Adah deu um passo, deu dois. E parou. Olhou em volta pra ter certeza de que ninguém estava vendo e avançou mais alguns passos. Aos poucos foi chegando perto do sofá até que, puff, sentou ao lado da moça e ficou ali, quietinha, sem dizer palavra. Veio o cachorro cor de sorvete de creme e, puff, deitou no chão, quietinho, sem dizer palavra.
A conversa seguiu. E Adah ali. E a moça ali. Até que os adultos levantaram. Adah levantou os olhos, olhou interrogativa para a mãe que disse: "dê tchau pra nossa visitante, Adah". A moça sorriu devagarinho, Adah a olhou de mansinho e o cachorro por fim soltou um latido. "Tchau, Adah" disse a moça. E resposta de Adah veio no mais esperado ainda que mais surpreendente dos abraços.
A moça saiu andando pela rua, leve, parecia balançar com as árvores na brisa gelada daquele fim de tarde. Já não sentia frio: a lembrança do abraço a aquecia. Adah acalma a alma de qualquer pessoa. Mas a alma de Adah, essa só o cachorro cor de sorvete de creme acalma.
5 #Comments:
sua linda!
adoro tuas palavras-perfumadas. e imaginei uma historia toda ilustrada pela babs e diagramada por mim =)
uma história/estória para adultos e crianças.
por qua não?
adorei.
beijos
Gostei disso, hem!?
Tem que fazer mais vezes.
Nem perguntei para onde estavas indo viajar.
Beijo
olá, elis!
depois de anos sem visitar meu blog eu me deparo com seu comentário. o prazer é todo meu! E maior ainda após ler o seu texto da conversa de bar. Gostei muito!
beijo,
João, amigo da Constanza
tá, céus, um momento e uma coisa de cada vez:
1) que coisa mais linda que li, uma fofura, num instante estava eu também na sala, a investigar as duas, e querendo participar do abraço.
2) topo a proposta da paulie viu?!
3) vais viajar? como assim?
quantas indagações...acho que vou ler de novo, não tenho cachorro cor de sorvete de creme, mas textinhos da elis me acalmam a alma.
ó, mais uma novidade no novo blog!!!
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