folia em dia de chuva

Sunday, April 13, 2008

No branco da folha


Mas se um dia me perguntares por que foi que deixei de escrever, neste dia então te direi que para que se escreva é preciso que haja n’alma inquietude tão perturbadora que serena ou plenitude tão intensa que instiga.

Pois para que uma palavra após a outra na folha branca caia é preciso que algum amor em outro encontre repouso ou, ao contrário, que muitos desencontros em nossa vida esbarrem.


Fazer surgir beleza a partir do vazio talvez seja das artes a mais difícil. E a vida por vezes parece querer colocar um ponto final nas minhas reticências.

Sunday, April 06, 2008

da doçura da imaginação


E quando voltou ao bosque de sua infância, as pitangas vermelhas que só agora alcançava já não lhe pareciam tão doces.

Friday, April 04, 2008

os aldeotas



Outro dia fui por fim ver uma peça que um amigo querido há tempos tinha indicado.
Indicado não é bem a palavra. Disse mesmo é que eu tinha que ir. E ponto.
Fui.

Chamei uma amiga de passagem, que chamou a tia, que chamou a filha. E as quatro mulheres fomos.
Não lembro de ter visto qualquer coisa no teatro que fosse tamanho encantamento. De parecer acariciar lá dentro do coração com uma mão de veludo. De dizer combinações de palavras de surpreendente beleza.
De me fazer voltar no tempo, sentir ao meu lado amigos distantes, sorrir de igual no circo e em seguida chorar de tanta boniteza.

Lógico está que a peça falava de duas coisas das mais fortes que trago comigo: os amigos e a distância. Coisas essas que andam sempre tão perto e tão longe e tão constantes. Coisas essas sem as quais não vivo e sem as quais não sou quem sou.

E lá pelas tantas acontece o seguinte diálogo (transcrito segundo manda a minha memória):

“– Mas por que toda essa fome de conhecer o mundo?

– Conhecer eu já conheço, Elias. Eu só quero é confirmar...”


Não houve como não achar que ali era um pouco eu. Achar que alguém, de novo, havia colocado em palavras algo que há tempos sinto.

Eu poderia aqui tentar falar de toda a lindezura que a peça trata a amizade. Dizer do quanto lembrei de tanta gente em cada um dos trechos de cenas. Dizer o quanto senti saudades.
Mas não conseguiria nunca reproduzir aqui a maneira como aquele texto me tocou. Ao invés disso, deixo, aos meus amigos, todo meu amor.

E o desejo de que os encontros ainda sejam muitos por este mundo que vamos por aí confirmando...