folia em dia de chuva

Wednesday, May 06, 2009

home is where it hurts

Foto: Renata Diem

Voltar à casa é sempre um grande exercício de estranhamento.
Estranho por si só é chamar de casa lugar a onde já não se pertence tanto.
É um pouco como reencontrar na rua uma grande amiga de infância, de adolescência. Alguém que costumava nos conhecer melhor que nós mesmos, alguém de quem já fomos íntimos e, de repente, no encontro, percebemos que nos falta assunto, que já nada há em comum além de uma história que no passado ficou.
E o reencontro com minha cidade também assim se me parece. Tudo ao redor é familiar – até mesmo os prédios novos que nem sabia eu que existiam. Acostumar-se às mudanças na paisagem parece ser das menores dificuldades – resolve-se com algumas piscadelas e pronto, lá está o novo. O que me custa é acostumarme às mudanças no olhar, a esse pertencer-não-pertencendo. É essa sensação de que por mais profundamente que eu conheça as veias da cidade, já não é por elas que correm meus dias. É passar por esquinas que se desvelam em lembranças e perceber que por elas, hoje, tudo que passa é passado. É admitir sem medo e sem culpas que, por mais que o sentimento permaneça, já não somos mais parte do dia-a-dia daquelas pessoas – assim como esse cotidiano já deixou também de ser parte da nossa vida.
Estranho isso de estar num lugar onde já não se está de fato, mas ao qual ainda se pertence – de certa forma. Porque, afinal, estranho mesmo é não mais saber a onde é que realmente se pertence – além, é claro, do pequeno lastro de casa que sigo carregando dentro.

Friday, May 01, 2009

no samba

Foto: Juliana Faillace

Lá por dentro de si podia ouvir um samba daqueles que sempre lhe davam vontade de dançar. Nem que fosse só com os dedos. Samba que se começasse a cantar, fazia um arrepio subir dos pés até a pontinha última de um fio de cabelo. Samba que lhe constituía, lhe alimentava, lhe fazia bailar o corpo e sorrir a alma.

Era do samba. A ele pertencia, desde sempre. Desde o colo do pai. Sua infância tinha sido de confete e serpentina. A vida toda seus pés souberam, como ninguém, obedecer àquele ritmo como se por ele fossem possuídos e, quando a música parasse, fossem devolvidos à dona.

Aprendera a entender o samba em sua alegria triste como muitas vezes sentiu que era por ele, e só por ele, compreendida em sua tristeza alegre. Estava de volta ao samba. E seu coração cantava chorando outra vez.

re-tomadas

Revisitando este lugar já há tanto abandonado, revejo coisas de já quase um ano faz. E ainda assim me reencontro com coisas ainda presentes, e me volta a vontade de mais aqui estar. Fica a vontade deste lugar reviver. Vontade – pois compromisso talvez seja palavra por demais forte. Prometo, no entanto, o esforço. Promessa essa para comigo mesma.