folia em dia de chuva

Friday, May 23, 2008

a beleza do longe

Prainha

Vontade de ir praí, prainha
Vontade de ficar na minha
Onde o sol à tardinha se esconde
Onde a noite escura nem é
Onde o mar vem lavar o meu pé
Onde só não me sinto sozinha

Praia aô, biribando sô
Vou a sem bando ô
É assim que eu me sinto melhor

De Chico César
Cantado por Mariana Aydar


Encontrei essa belezura de música essa semana num cd de uma moça de voz doce e de belas melodias. Já o primeiro verso me remeteu imediatamente à casa, aquela distante, aquela que tantas vezes deixei, aquela para onde inevitavelmente sempre se volta.

Sempre muito me inquietou essa contradição de sentimentos que se juntam quando estamos no longe. Esse sonho de voltar ao nosso canto no mundo, o lugar onde não há estranhamento, o lugar de pertencimento – a volta pra casa mesmo. Acho que estar longe é sempre, de alguma forma, o contraste do lugar onde se está com o lugar onde se quer estar (ou se pensa que se quer estar). E nisso de querer estar alhures, idealizamos lugares, pessoas, rotinas, amores. Achamos que tudo que está no longe é melhor, é perfeito, é tesouro que sempre buscamos e nunca havíamos conseguido enxergar bem em nossa frente. Lembramos constantemente das coisas boas, das boas companhias, das belas paisagens, do dia na praia, da preguiça no sofá da sala, da cerveja com os amigos no fim da tarde. Chego mesmo a achar que por vezes lembramos com saudade de coisas que nem nunca chegamos a fazer, mas que estando longe já não podemos mais.

Entre todas as minhas idas e vindas sempre tentei aprender a lidar com toda essa contradição dentro de mim: a escolha de ir e vontade de ficar. Mais que isso: a sensação de sempre querer estar onde não se está. Hoje já sei que a casa com que sonho quando estou longe é um lugar não existe. Ela é apenas a casa da minha imaginação. Os cheiros, as texturas, os sabores e os sons de que tanto sinto falta também não são tão intensos quanto me aparecem na lembrança. A saudade tem o poder de intensificar qualquer coisa, isso é que sim.

Tudo isso me acompanha há tempos e tempos. Mas surpresa mesmo fiquei foi ao perceber que hoje, ao ouvir na canção “vontade de ir praí prainha (...) onde o sol à tardinha se esconde, onde a noite escura nem é, onde o mar vem lavar o meu pé...”, ao invés da já bruta tristeza que costuma me assolar, o que senti foi uma saudade tranqüila. Saudade que sabe das coisas boas que aqui não há, mas que já não quer daqui sair. Saudade gostosa de não fazer sofrer. Talvez uma quase-nostalgia doce. Daquela que suspira ao pensar no que passou. Mas em seguida esboça um sorriso de quem sabe o que quer agora. E assim segue o domingo – na certeza de que o fim de semana não podia ter sido melhor.