folia em dia de chuva

Wednesday, February 21, 2007

partiu


O primeiro encontro foi ao acaso, sentados que estavam numa mesma longa mesa. A distância, porém, não a impediu de ouvi-lo contando as conseqüências de seu mais recente porre.
O segundo encontro foi o primeiro em que ele a viu. Olhou-a com o olhar profundo e assustado de quem, sem querer, encontra algo, e pára – ainda que nem saiba bem o que esse algo seja.

No terceiro encontro eram já grandes amigos, embora ainda não tivessem dito isso um ao outro. Dali pra frente foi como se em duas semanas dez anos se passassem, vinte quiçá. Passavam o tempo juntos, quase sempre emoldurados por um grupo de amigos. Almoços, jantares, e até mesmo um café da manhã no meio da madrugada. Quase nunca ficavam sós. Conversavam pouco. Respeitavam seus mundinhos particulares, suas leituras, seus sonos, suas pequenas solidões diárias. Dividiam horas de um silêncio cúmplice daqueles que são até gostosos de se ouvir. E, de quando em quando, na escapadela de um olhar, em silêncio se diziam que ali, no outro, haviam encontrado algo de precioso.

Em vinte dias ela estava de malas feitas: voltaria para casa, para o lugar onde ele não existia. Sem dizer nada, decidiram nada dizer sobre o assunto. Dias antes da partida, uma festa, amigos – todos – balões, risadas, bebidas e algumas lágrimas de canto de olho. Ele a entrega uma foto dos dois: ela tinha tido a mesma idéia. Trocam também abraços – e, por eles, um pedacinho da alma.

Horas antes de ir ao aeroporto, um susto. Uma crise nervosa o faz parar no hospital. Momentos depois, se despediam no estacionamento. Pressa. Um abraço. Forte. No olhar mudo, a promessa tremula do reencontro.

Naquela hora, melhor mesmo era não saber que nunca haveria um sétimo encontro.

Monday, February 12, 2007

mistérios do mundo

[foto Fernando Vivas]

mas afinal, porque é que os melhores posts (assim como as melhores cartas) são sempre escritos mentalmente quando se está, por exemplo, dirigindo sozinha ao som de boa música??

hein?!

(isso foi só pra dizer que eu esqueci de tudo que ia colocar aqui... melhor assim, no vazio cada um pode imaginar o que gostaria de ter lido. pois.)

Sunday, February 04, 2007

dos porquês


Telhados de Paris
Nei Lisboa

Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito

O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti

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porque vem me seguindo em silêncio há dias tal música e só hoje resolveu mostrar-se.
porque me faz lembrar de peo.
e porque de peo sinto tanta falta. e falta de fins de tarde de tomar cerveja, comer marisco e constatar que a vida é boa.
e porque os gostares de peo sempre me foram dignos de muita consideração.
porque é, de sua forma, porto alegre. e porto alegre agora é helder.
porque essas duas pessoas se fizeram presentes nos últimos dias de maneiras maravilhosamente surpreendentes.
porque é o que mais respeito em nei lisboa. sem sombra de dúvidas.
porque está num cd que se chama hein!? e eu adoro essa palavra.
porque acho absolutamente linda essa imagem dos telhados de paris.
porque na verdade quase todos os versos me trazem belas imagens à cabeça.
porque é um pouco como tentar entender a alegria triste que camilla chama de nostalgia.
porque me faz pensar em um monte de coisas boas.
e porque me faz não pensar em nada quando lembro das coisas chatas.
enfim, porque acho que é uma música que merece ser ouvida.
portanto, ouçam.
isto é, se alguém achar que tem algum porquê.