folia em dia de chuva

Saturday, August 18, 2007

no varal



Por um momento queria nada sentir.
Queria um sopro de vazio nesse turbilhão que não lhe deixava quieta.
Por um momento queria poder ver o pôr do sol sem pensar nas milhares de obrigações que estava deixando de cumprir – prorrogando tudo como se o tempo fosse elástico. E como se não soubesse que no final ia ficar, de novo, tudo pro final.

Por hoje só queria estar numa bolha. A ilusão da distância. A suspensão dos acontecimentos. As férias de si mesma. De sua própria minha vida. Da vida que havia criado pra preencher sua vida.
Por hoje só o tédio lhe bastaria, lhe preencheria como nenhum outro sentimento seria capaz. Nada ter que fazer. Dia dos pais sem ser dia dos pais. Páscoa sem ser páscoa. Carnaval sem ser carnaval.
Alheia a tudo, alhures.

Longe, longe. É onde hoje queria estar.
Mas não. A vida insistia em passar por cima. Insistia em mantê-la ali. Insistia em lhe fazer lembrar de prazos, de número de páginas, de livros, resenhas, relatórios, reuniões, projetos... palavras tão sérias essas. Tão chatas.

Queria poder lembrar-se apenas dos sorrisos, dos encontros ao acaso, do perambular (e poderia existir palavra mais gostosa??), de dar risadas de um amigo fantasiado de superman num sábado de tarde e depois tomar sorvete de flocos e tirar fotos divertidas. Quem sabe quisesse até alguma obrigação. A obrigação de ver o mundo, de apreciá-lo. E, porque não, a obrigação da calma, do respiro, do ritmo não imposto. Era isso. O que queria mesmo era poder pendurar a vida no varal pra só recolher depois de um dia de muito sol e vento.

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